quarta-feira, 4 de julho de 2007

Editorial



Este trabalho consiste na criação de um blogue, no âmbito da cadeira: Publicações de Arte Contemporânea e Projectos Digitais de Divulgação, orientada pelo Dr. Miguel von Hafe Pérez. O blogue inclui um artigo pessoal sobre o tema escolhido: Práticas Criativas: Arte e Desporto - Modelo do Desporto nas Artes Plásticas, uma entrevista, uma recensão a um livro, e a respectiva pesquisa iconográfica.

Ao escolher como tema do meu trabalho, o dualismo arte e desporto, num primeiro momento, procurei entender o que existe de comum no processo criativo destas duas actividades (artigo). E, num segundo momento, a utilização da estética de alguns desportos utilizados como modelos inspiradores de obras de artistas plásticos, ao extrapolarem a actividade desportiva que exercem na criação de obras de arte (entrevista). Escolhi para entrevistar duas artistas plásticas, Marcela de Navascués e Isabel Monteiro que se apropriaram da estética de alguns desportos e a projectaram na sua obra, nomeadamente o surf.


Teoria da Inteligência Criadora de José António Marina (Editorial Caminho, 1995) foi o livro escolhido para a recensão. Ao fundamentar a sua teoria, o autor evidencia a surpreendente capacidade flexível da inteligência humana, servindo-se de dois exemplos diferentes – “criação artística” e “criação desportiva”.
Na pesquisa iconográfica, preocupei-me em mostrar obras de artistas plásticos, entre os quais alguns desportistas, que utilizaram o desporto na sua actividade artística.

Artigo

Práticas Criativas Arte e Desporto
Modelo do desporto nas artes plásticas

A inteligência e a psicologia criativas constituem a estrutura base da dicotomia arte e desporto e são o motor da evolução de ambas. Alguns conceitos são subjacentes a estas práticas criativas, existindo um denominador comum nas principais motivações da origem do processo criativo: a estética, a intuição, a memória, a percepção, a imaginação, a inspiração, a inteligência, o pensamento, a simulação, a energia, os códigos, a técnica, a força, o consciente e pulsões inconscientes. O ambiente, o contexto social e político e a relação do artista com a vida, são alguns dos factores motivadores diversificados que poderão ter um papel relevante na produção artística. No aspecto formal, a arte e também o desporto, favorecem a interacção e comunicação entre os seres humanos.

A motivação constituirá um núcleo a que correspondem estádios ou pulsões inconscientes, de onde emergirá a criatividade. A profundidade do afecto está na relação que o artista estabelece com a obra que criou, a qual, muitas vezes, advém da sua realidade interior. Assim, o mundo sensível – imanente ao ser humano - emerge do sentimento. A emoção faz despoletar a força que o artista desenvolve ao transformá-la em motivação criativa. A intuição comporta uma consciência individual e contém um maior significado a nível artístico e criativo. De acordo com a psicologia, o sujeito criativo possuirá uma força de vontade muito persistente e qualidades excepcionais, nomeadamente, a percepção a intuição, a memória, e uma facilidade de associação devido à sua aguda sensibilidade perante os acontecimentos da sua infância e circunstâncias da vida.

O pluralismo estético foi favorecido pela evolução tecnológica e a arte transmite, através de gerações, todo o significado das mensagens a que aspira a liberdade humana.
Desde a antiguidade, a cultura e a prática do desporto foram celebrizados pelos gregos e a criação dos “jogos olímpicos”, teria como fim a interacção física e emocional do indivíduo, na superação de obstáculos e, também o objectivo de atingir uma meta, rumo ao reconhecimento e relação com o “outro”.

O desporto, constitui a expressão universal estimulante da actividade física e emocional. Etimologicamente, o vocábulo criatividade, remete-nos ao inexistente de onde se tira algo, à invenção, ao estabelecimento de relações que conduzirão à inovação. A criação, é um pressuposto religioso, em que a divindade está inscrita no processo criativo. O filósofo francês Jean-François Lyotard entende-o como uma teologia, uma proximidade ao divino e ao imortal. Por outro lado, Goethe, afirmou que, na diversidade de vertentes formais da arte em que inclui a poética, representam a “superação da própria vida”. A arte como vocação, subentenderá um dom ou talento naturais, que ao serem cultivados e aperfeiçoados, expressarão a actividade artística que pela dedicação e a “vontade de poder” de Nietzsche, se integram no processo criativo.
A arte encerra na essência, uma cosmologia filosófica e antropológica. Os artistas inferem nas suas obras uma análise sobre o mundo que os rodeia e, também, a sua própria natureza, ao tentarem compreender a evolução e o pensamento humanos.

Como artista plástica e desportista, concordo efectivamente que existe um modelo de comunicação idêntico, a relação entre os estímulos, os pensamentos – as nossas representações internas, as emoções e a nossa resposta em termos de comportamento. Arte e desporto, com sistemas de representação diferentes que comportam as formas sensoriais de como representamos o mundo. E a estrutura do pensamento dá significado à experiência e é responsável pela sensação. Também posso comparar a prática de pintar, à prática do surf ou do golfe, no sentido em que, embora possa existir um domínio da técnica, será impossível pintar duas telas iguais, surfar duas ondas com as mesmas manobras ou efectuar duas tacadas da mesma maneira.

É curioso que ao praticar surf ou golfe, a razão porque o corpo não obedece durante o desempenho físico (desafio), e não corresponde à técnica manifestada no treino, tem mais a ver com os pensamentos e emoções do que com a técnica da tacada ou manobra, do swing ou da postura.

Para construir uma rotina de preparação excelente é conveniente conhecer a mecânica mental e assim empregar a estrutura do pensamento para alcançar o máximo de desempenho, deve tornar-se um reflexo condicionado, independentemente se a tacada ou a onda anterior saiu bem ou mal. A repetição – aperfeiçoamento da técnica empregue - leva à concentração, confiança e decisão. Na prática de pintar é igual, as minhas convicções, motivação e história emocional, são as determinantes no controlo da mente, e reflectem-se nas minhas obras.
Existe um paralelismo a nível de conceitos, que unem estas duas práticas criativas, a arte e o desporto, prevalecendo a memória e a percepção, e o “outro”, pois ambas necessitam do público para serem reconhecidas.

Entrevista

ENTREVISTA COM ISABEL MONTEIRO e MARCELA de NAVASCUÉS
Práticas Criativas – Arte e Desporto
Modelo do desporto nas artes plásticas


Catarina Machado: Ao desenvolver o trabalho sobre o dualismo arte e desporto, notei a semelhança de alguns conceitos nas duas actividades criativas, como: a intuição, a memória, o treino, a técnica, a imaginação e estética. No vosso percurso artístico apresentaram várias obras inspiradas no desporto, nomeadamente o surf. De que forma estas actividades desportivas influenciaram o vosso trabalho?

Isabel Monteiro: O “objecto” ou modelo exterior que é apropriado para a prática pictórica, seja ele qual for, implica nessa transferência de campos, neste caso de uma prática desportiva para o acto de pintar ou transformar em imagem, uma revisitação em termos sinetésicos e cognitivos da experiência real inerente ao modelo. Quando esse modelo matricial da prática artística é uma prática por nós experienciada a partir do seu interior, esse conhecimento privilegiado potencializa a força dessa contaminação, tanto motriz, como emocional.
Como tal, acabamos por activar mecanismos emocionais muito próximos na prática do objecto e do modelo, sendo este um factor, no meu caso, que duplica o prazer de pintar, uma vez que revivo uma actividade que me agrada especialmente.

Marcela de Navascués: Uma parte do meu trabalho, baseia-se na linguagem corporal e de movimentos... que visam a comunicação. O desporto entra assim, pela narrativa e estética do movimento. Na série de obras sobre ginástica, prestei uma homenagem ao meu avô materno porque foi defensor e praticante de desporto. Procurei assim transmitir nas minhas obras, esta imagem marcante da minha infância... Por outro lado, apropriei-me de outros temas singulares que apliquei noutras séries, sempre com os Básicos - pequenas esculturas que interpretam as minhas narrativas - desde voarem no espaço sem gravidade, em liberdade plena, como na água... e paraquedistas também me inspiraram, na queda livre! Na série Husmeadores do Espaço tem muito de ti Catarina, que me conduziste para o surf e por isso, mais um desporto que iniciei e fonte de inspiração.
Penso que o desporto é o culminar de inteligência e movimento e, quando se alcança o objectivo, sentimo-nos recompensados.


C.M.: Existe um percurso artístico e um percurso desportivo. O que levará um artista e um atleta, a partir de referências socialmente adquiridas, a tornarem-se originais e reconhecidos, no desempenho das suas actividades?

I.M.:
A “marca” autoral é uma fatalidade inerente a toda a actividade cultural. Seja uma prática que viva da expressão corporal, seja uma prática construtora de objectos (quer concebidos intelectualmente, ou “artesanalmente”), a marca individual permanece sempre, mesmo quando se intenta ocultá-la.
Esta marca será sempre produto uma relação dialéctica entre o indivíduo e as condições sociais que o envolvem. Indivíduos que experienciem condições semelhantes, manifestarão “marcas” individuais mais próximas, podendo em termos colectivos agrupá-los e encaixá-los em tipologias ou estilos.

M.N.: O ser humano como ser irrepetível deve procurar a originalidade e singularidade no seu interior, embora considere, que o trabalho diário e contínuo, é uma das chaves para alcançar esse objectivo. O esforço físico e intelectual, assim como, acreditar em si próprio, é fundamental para se dar o seu melhor.


C.M.: Acreditas que existe um dom e talentos inatos, que são posteriormente trabalhados?

I.M.: Sem dúvida que há condições genéticas que predispõem os indivíduos a relacionarem-se de forma mais eficaz com determinadas áreas de actividade. No entanto, estas capacidades inatas, terão que encontrar condições ao longo da vida, que lhes permitam desenvolverem-se com regularidade e segundo uma orientação correcta. Se estas condições não existirem, uma capacidade inata dificilmente se desenvolverá no sentido de uma prestação acima da média.

M.N.: Não sei quem nos dá o dom, se a Mãe Natureza, se Deus, ou os nossos genes…só sei que o possuímos de maneira inata, e somos nós que o devemos descobrir e aproveitar.


C.M.: Existe assim uma superação, um leque de possibilidades olhando ao passado artístico e desportivo. Continuam, contudo, a existir estilos. A singularidade dos indivíduos é uma realidade. Reconhece-se a obra de um artista pela “linguagem “ que transmite. Assim como se reconhece, no surf o Kelly Slater, no golfe, o swing de Tiger Woods, sem o ver, ou o serviço de Maria Sharapova, no ténis. Diremos que existe uma ambivalência de estilos na arte e desporto. Concordam que para se atingir esta meta de reconhecimento é fruto de trabalho e longo esforço, (sangue, suor e lágrimas...) do artista e do desportista?

I.M.: Regressa-se à questão das qualidades inatas, cujo desenvolvimento depende de uma grande disciplina, que passa sempre pela dedicação e capacidade de sofrimento. Qualquer indivíduo que se queira evidenciar numa actividade específica, terá que canalizar a sua vida e energia para um objecto muito específico. É, portanto, obrigado a prescindir de outras experiências positivas, sendo obrigado de certa forma a reprimir, ou no mínimo, a dosear, a sua tendência hedonista. Só nestas condições poderá, eventualmente, atingir um nível performativo, seja qual for a área, reconhecido e premiado colectivamente.

M.N.: A liberdade alcança-se com disciplina e a disciplina exige esforço, trabalho autocontrol. Um projecto exige 100% de nós, de uma entrega completa. O resultado é o prémio, ao tornar realidade as ideias e partilhá-las com os outros. É uma satisfação que tudo supera, tal como uma Mãe ao parir um filho, a dor transforma-se em maravilha!

C.M.: A vertente física e psíquica, poderão cercear o comportamento do desportista em prova. Há toda uma panóplia de obstáculos que terão que superar numa prova desportiva. Acham que o desportista, ao ser estimulado - pela presença do público que o reconhece - favorecerá a um melhor desempenho? E o artista? O estímulo pelo reconhecimento pela crítica, público e pares, numa exposição, também não lhe farão sentir a responsabilidade de trabalhar cada vez mais e melhor?

I.M.: O estímulo exterior é um catalisador no sentido da auto-superação e na manutenção de uma capacidade de resposta, ao nível das expectativas circundantes.
Conforme a capacidade de cada indivíduo e a forma como lida com este factor, poderá contudo revertê-lo a seu favor, de forma mais ou menos positiva.

M.N.: A insegurança atenua-se, diminui com o reconhecimento do público, que é um factor estimulante para um próximo trabalho e a continuidade do percurso.

C.M.: Acham que um projecto (tanto no desporto como na arte) contem em si mesmo, um objectivo, uma meta, ou um fim, que o indivíduo se propõe realizar?

I.M.: Sempre. Embora esse objectivo varie, quer em termos de qualidade quer de quantidade, entre indivíduos, dependendo dos critérios, das prioridades e ambições de cada sujeito.

M.N.: Eu não o entendo de outra maneira. Uma meta engloba cada ideia, cada instalação, cada exposição... é o culminar de um projecto. A escalada de um artista na arte é infinita, durará o mesmo tempo que o criador.

C.M.: Entendem a arte como competição?

I.M.: Haverá circunstâncias em que o artista será confrontado com esse aspecto da competitividade (concursos, bolsas, etc.). No entanto, a arte é uma prática, em que a competição não é assumida como um objectivo, ou função, pelo menos de uma forma transparente e inequívoca.

M.N.: Uma boa obra de arte, não anula outra boa obra de arte. Pelo contrário, podem mesmo completar-se. No entanto a realidade é distinta e infelizmente acaba por haver competição marcada pelo ritmo do mundo actual. A nossa sociedade é terrivelmente competitiva e é difícil escapar. A arte como negócio, tem que seguir as regras do mercado e o mercado é basicamente competitivo.

C.M.: Concordam então, que poderá existir um paralelismo entre arte e desporto?

I.M.: Sem dúvida, são actividades que implicam uma constância e disciplina muito grandes, quer ao nível de prestação física, como intelectual, emocional e criativa. Embora, em termos de objectivos possam divergir completamente.

M.N.: Há uma relação muito próxima. Acho todavia, que um artista não é o melhor, existem muitos melhores. Quem sabe a arte tem a capacidade de juntar muitos e bons artistas. Na arte não existem corridas, a arte cria um espaço aberto, infinito nas suas possibilidades e tamanho. Aceita todos e todas, na novidade e na qualidade dos trabalhos.

C.M.: Por último, concordam com a importância do sentimento, do afecto, para a realização do objectivo, isto é, o amor ao desporto e o amor à arte?

I.M.: Disciplina e constância referidas na resposta anterior, são fruto e só possíveis, a partir de uma conjunção de sentimentos, entre os quais: o “AMOR” é fundamental na sua manutenção e continuidade.

M.N.: Só através do amor se pode entender o esforço desta escolha. Eu descobri verdadeiramente a minha vocação aos 28 anos, embora até essa altura estivesse sempre ligada a trabalhos criativos. Sempre vivi rodeada pela arte. Os meus pais possuem a galeria de arte contemporânea mais antiga de Madrid (Galeria Edurne), existe há 43 anos. Talvez por isso, saí aos 18 anos, para tentar outros “voos” e questionar a vida. A minha surpresa foi grande, quando descobri a paixão de trabalhar com as mãos. Já o havia feito no restauro de móveis. Houve um fio condutor que me ligou, por fim, às instalações que contam as diferentes perspectivas da vida.
De qualquer maneira, o amor está em tudo. Viver da arte, viver na arte, sentir a arte, é toda a filosofia de uma existência baseada no amor e dedicação... Prova-o a herança artística legada às gerações futuras, por grandes e talentosos criadores!

Recensão

Teoria da Inteligência Criadora de José António Marina, Editorial Caminho, 1995

No livro de José António Marina, intitulado Teoria da Inteligência Criadora, o autor procurou a fusão interdisciplinar das ciências cognitivas: a psicolinguística, a psicologia cognitiva, a inteligência artificial, a neurologia, e a filosofia. Assim pretende dar uma resposta a questões ligadas à arte, e também, à compreensão dos mecanismos relacionados com a inteligência, nas diferentes vertentes do processo criativo.

José António Marina começa por analisar o olhar, pois tem uma importância que imprime inteligência ao conhecimento socialmente adquirido e, que, pela profundidade, poderá orientar projectos em cada actividade. A meta que se pretende atingir estará assim direccionada pela informação que o olhar transmite, à razão ou inteligência. A criatividade está, pois, implícita no olhar, quando existe procura, a fim de concretizar um projecto. O mundo sensível está “ao serviço” do inteligível. Os dois interagem na busca de uma solução, de uma estratégia, para a resolução de uma proposta pré definida ou a definir. Os cinco sentidos tomam, pois, parte activa na acção. O apuro de um criador, estará na facilidade com que capta com o olhar. Van Gogh disse ao seu irmão: Acha belo tudo o que puderes; a maioria não acha suficientemente belo. A percepção irá identificar o que se pretende isolar entre todas as possibilidades, ao facultar informação e unirá o objecto ao sujeito criativo. Dufrenne defende a noção de que a percepção é a pátria de toda a verdade
[1].

O ser humano autodetermina-se, uma vez que a actividade mental e física o orientam, nesse sentido. Um atleta esforça-se, ao trabalhar a musculação. O seu percurso desportivo vai avaliando o desempenho, e corrige a técnica pelo treino, a fim de realizar o projecto a que se propõe. A estrutura básica da criatividade integra-se no projecto de construção da personalidade atlética, tal como o artista plástico estrutura a sua personalidade criativa na pintura. O olhar, permite aprendizagem e o cálculo, assim como as referências adquiridas, até que atleta e artista se afirmem, ao criarem uma linguagem própria e inovadora, permitido pela liberdade. O “état chantant”, segundo Valery, é a clareza de consciência e a nitidez de possibilidades que induzirão o ritmo e a energia. A sensibilidade conduz a criatividade... um conceituado jogador de golfe, Jack Nicklaus, afirmou: Sentir o peso da cabeça do taco contra a tensão do cabo ajuda-me a balançar com ritmo. À medida que progride o balanço para trás, agrada-me sentir o peso do taco puxando as minhas mãos e os meus braços para trás e para cima. Ao iniciar o movimento para a frente, agrada-me sentir o peso da cabeça do taco atravessando-se resistindo, enquanto as minhas pernas e quadris, que já seguem o impulso, arrastam as mãos e os braços para baixo. Quando experimento estes sentimentos, quase de certeza que estou a rodar com o timing adequado. Estou a dar-me o tempo suficiente para fazer todos os movimentos necessários, na sequência rítmica [2].
Há, assim, todo um processo físico e psíquico que, no desportista, poderá cercear o seu comportamento em prova. A inteligência, contudo, actuará, ao gerir a energia enquanto se desenrola a acção! O comportamento seguirá, assim, o primado do pensamento racional, sobrevalorizado. A persuasão influencia a capacidade de sedução e de animação. O estímulo, é fulcral na possibilidade de resposta a um determinado desafio, quer seja arte, ou desporto. Um ser, quando estimulado, desperta nele sinergias, desconhecidas até então... Na arte e no desporto, é fundamental para o atleta e para o artista, o reconhecimento pela crítica e a valorização pelo público. É a recompensa de um percurso de muito trabalho, sofrimento e esforço, de muitas obras realizadas; do treino; de concursos; de exposições - tal como o nome indica - é expor o sujeito criativo a um juízo de valor.

Por conseguinte, os momentos que antecedem a inauguração de uma exposição, para qualquer artista são momentos de grande ansiedade e tensão… a suscitação, o controlo e a capacidade de ingerência nos acontecimentos, é sinal que a inteligência humana se transfigura, pela liberdade, na escolha de possibilidades. A inteligência, questiona mais do que responde. A reorganização do operativo mental está, segundo José António Marina, coadjuvante a um projecto: embarcada em projectos rotineiros, converte-se em inteligência rotineira; lançada em projectos artísticos, faz-se inteligência artística; empenhada em projectos racionais, converte-se em razão [3]. A análise da inteligência remete ao movimento corporal, a que corresponde a actividade física e mental. Mais uma vez a liberdade está implícita num projecto. Dos projectos dependerão a textura da inteligência e o contexto do mundo do artista e do atleta: a liberdade criativa permite a condução de projectos de acordo com a inteligência de cada um. Ao projecto estão indissociáveis três postulados: inteligência humana, liberdade e criação.


[1] DUFRENNE, Mikel - L’oeil et l’oreille, Ed Jean Michel Place, Paris, 1991.
[2] NICKLAUS, Jack - Golf my way, New York que, Simon and Schuster, 1974
[3] MARINA, José António - Teoria da Inteligência Criadora, Lisboa, Editorial Caminho, 1995

Bibliografia

ARCO’06 – 16 Proyetos de Arte Español, Madrid, 2006

BARONI, Christophe – O que Nietzche realmente disse, Ed. Círculo de Leitores, Lisboa, 1977.

DUFRENNE, Mikel - L’oeil et l’oreille, Ed Jean Michel Place, Paris, 1991.

FERRO, Mário; TAVARES, Manuel – Conhecer os Filósofos de Kant a Comte, Ed Presença, Lisboa, 1991.

FONSECA, A. Fernandes da – A Psicologia da Criatividade, Edições Universidade Fernando Pessoa, Porto, 1998.

GASSET, José Ortega y – A desumanização da arte, Vega, Lisboa, 1996.

MARINA, José António – Teoria da Inteligência Criadora, Editorial Caminho, Lisboa, 1995.

MOURÃO, Raul – Raul Mourão, Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2007.

PIRES, Gustavo – Agôn: Gestão do Desporto: o jogo de Zeus, Porto Editora, Porto, 2007.

PITA, António Pedro – A Experiência Estética como Experiência do Mundo, Campo das Letras, Porto, 1999.

WATERHOUSE Jo, PENHALLOW, David – Concrete to canvas: Skateboarders’ Art, Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 2006.



















Ángeles Agrela - Desaparecida en combate, 2001.......................Ángeles Agrela - Sudor y lágrimas, 2002

















Gabriel Orozco - Ping Pond Table, 1988.................................... Jorge Abade - White room, 2005















Maurizio Cattelan - Table football, 1991.....................................James Coleman - box, 1985















Matthew Barney - Cremaster 4, 1994-95.....................................Antoni Muntadas - Media Stadium, 1989





















Shaun Gladwel - Storm Sequence, 2000.....................................Shaun Gladwel - Tangara, 2003

















Andy Warhol & Basquiat - 6.99 $, 1985...................................Warhol & Basquiat - Collaborations, 1985
















Nazaré Alvares - Futebol, 2004.................................................Jonathan Hernandéz - Vulnerabilia, 2005

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Muntean-Rosenblum - Mostly, 2004........................................ Jonathan Borofsky - New York, 1980
















Raul Mourão - Sem título, 1993............................................... Raul Mourão - 7 artistas, 1995
















Enric Maurí - Després de jugar, 2002........................................ Dario Escobar - sin titulo, 2001